Painel da 13ª FlinkSampa aborda o Negro na Música e na Literatura

Mesa reuniu o escritor Paulo Lins, a jornalista, escritora e pesquisadora musical Kamille Viola e com mediação da jornalista, escritora e palestrante Adriana Ferreira

O primeiro dia da 13ª FlinkSampa – Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, realizada até este domingo (16) das 11h às 18h no Sesc Pompéia, em São Paulo, foi concluído com o painel África Brasil: o Negro na Música e na Literatura, mediado pela jornalista, escritora e palestrante Adriana Ferreira e protagonizado pelo escritor Paulo Lins e pela jornalista, escritora e pesquisadora musical Kamille Viola.

A jornalista Adriana Ferreira começou a conversa destacando que falar sobre protagonismo negro na música e na literatura significa falar sobre a essência dessas duas linguagens artísticas. “Maria Firmina dos Reis foi a primeira mulher a escrever um romance no Brasil, e o maior escritor do Brasil é Machado de Assis”.

Paulo Lins, autor da obra Cidade de Deus e Desde Que o Samba é Samba, contou que a sua entrada na literatura foi possibilitada pela música. “A música representou tudo. A música é a nossa rainha. O Brasil é um país musical. A arte, em si, é tão forte quanto um quilombo. Ismael Silva é tão importante quanto Zumbi dos Palmares, Luiz Gama, Maria Carolina de Jesus, Sabina. A língua, a cultura, a religião unem os povos”.

A cultura é coisa mais importante no ser humano, enfatizou Lins. “A cultura nos torna mais fortes, tanto que proibiam o samba, proibiam a religião, destruíram nossos terreiros, prendiam nossos antepassados porque praticavam a música e o candomblé. A arte é a coisa mais importante para dignificar um povo”.

Kamille lembrou que a importância da música na cultura brasileira é grandiosa e não é por acaso. “Toda música do continente americano vem dos toques dos terreiros. A música está sempre presente no coletivo, na religião, na dança, isso para os negros e para os indígenas”.

A pesquisadora destacou que a música conta a história negra do Brasil, o cotidiano, a cultura, as transformações sociais, as dores e vitórias.  “Jorge Ben Jor, filho de um sambista, canta o orgulho de ser negro, as suas histórias. O samba já falava de Zumbi, da Revolta dos Malês, de Xica da Silva. No álbum África Brasil ele traz um retrato daquele período de 1976, exaltando a cultura negra. Ele traz os toques de terreiro para o seu violão”.

Paulo Lins revelou que Jorge Ben Jor sempre embalou o cotidiano da família. “Sou um amante da música brasileira. Meu pai compra os discos assim que eram lançados. A música é tudo para mim. Ela me marcou tanto que eu até escrevi o livro Desde Que o Samba é Samba. Os primeiros trabalhos na escrita são letras de samba para o bloquinho Anjinhos da Cidade de Deus. Dali comecei a escrever poesia”.

O escritor observou que a força da literatura negra hoje é parte de um processo das pessoas que vem lutando politicamente de modo contínuo. “Antes de eu lançar o Cidade de Deus, por exemplo, já tinha os Racionais, Cidade Negra…Tudo o que as pessoas negras conquistaram no Brasil foi através do movimento negro. Eu não tenho dúvidas quanto a isso”.

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