Escritoras(es), editoras(es), empreendedoras(es) negras(os), além de convidados especiais, marcaram presença na abertura da FLINKSAMPA – Festa Internacional do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, que aconteceu na tarde de sábado (16/11), simultaneamente, no campus da Universidade Zumbi dos Palmares, na zona norte, e no Sesc Pompeia, na zona oeste na capital paulista.
O evento tem como patrono o herói Zumbi dos Palmares e faz parte da programação da 7ª Virada da Consciência 2024, que ocorre de 16 a 20 de novembro em vários pontos da cidade de São Paulo. A curadoria da FLINKSAMPA é de Guiomar de Grammont, escritora, dramaturga e professora da Universidade Federal de Ouro Preto.
No Campus da Universidade Zumbi dos Palmares a co-curadoria é assinada por Claudio Marques da Silva, Renan Wrangler, Odair Marques da Silva e Jorge Felizardo. O público pode conhecer livros que trazem à cena protagonistas negros e negras em histórias infantis repletas de representatividade. Obras literárias que, muitas vezes, só encontram espaço em eventos como esse, oferecendo uma reflexão sobre a importância de educar as crianças desde cedo com heróis e heroínas que dialogam com suas realidades.
No Sesc Pompeia, as boas-vindas foram dadas pelo anfitrião Luiz Galina, diretor do Sesc São Paulo; José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares; Francisca Rodrigues, presidente da Virada da Consciência e Guiomar de Grammont, curadora do evento literário. “É uma satisfação muito grande participar desta abertura e uma honra de ter a FLINKSAMPA pela primeira vez acontecendo no Sesc Pompeia. Quero saudar a Universidade Zumbi dos Palmares e à figura de Zumbi do Palmares. Neste ano teremos o primeiro feriado nacional, no dia 20 de novembro, uma importância histórica”, afirmou Luiz Galina, diretor do Sesc São Paulo.
Com muita emoção, José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, iniciou sua fala convocando uma saudação ao grande líder Zumbi dos Palmares e comentou sobre a importância da literatura negra marcar presença em todos os espaços. José Vicente também lançou o livro “20 anos da Universidade Zumbi dos Palmares”, no qual várias pessoas preocupadas com a educação narram suas experiências de contribuição para a fundação da Universidade Zumbi dos Palmares, pioneira na América Latina.
Na Mesa “De Zumbi a Luiz Gama: Lutas pela Liberdade”, Ligia Ferreira e Flavio dos Santos Gomes comentaram sobre a vida e obra de Luiz Gama e também do grande líder do quilombo, Zumbi dos Palmares. A mediação do debate foi de Dulci Lima. As conversas buscaram traçar um paralelo entre esses dois grandes símbolos da luta pela liberdade dos escravos no Brasil: Zumbi dos Palmares e Luiz Gama.
“É impressionante a capacidade de comunicação que tinha Luiz Gama com o público. Isso fazia dele um orador e uma pessoa que reunia centenas de pessoas em suas conferências públicas em São Paulo. Ele sempre estava cercado de gente que queria ouvi-lo, inclusive seus inimigos, que muitas vezes o ameaçavam de morte. E Luiz Gama não temia e resistia. Durante muito tempo, a gente não enxergou a história do Luiz Gama mas aqui estou para contribuir e compartilhar a obra incrível deste escritor e poeta”, afirmou a autora Ligia Ferreira, que há 24 anos pesquisa a obra e vida de Luiz Gama e é autora do livro Lições de resistência – artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (Edições Sesc).
Flávio dos Santos, professor e autor de vários livros sobre os quilombos, entre eles, a obra Mocambos e Quilombos: uma História do Campesinato Negro no Brasil, afirma que uma primeira reflexão importante a fazer é que precisamos continuar contando a história do Zumbi dos Palmares e de Luiz Gama. “Podemos fazer um paralelo entre eles que é quando eles são transformados em heróis pela comunidade negra e não necessariamente pelo Estado. Luiz Gama se transforma em uma grande personagem pelos abolicionistas contemporâneos a ele. Acontece nos anos que se seguem a morte dele, como bem a Lígia lembrou, pois ele morreu antes da abolição”, complementa Flávio dos Santos.
Na sequência o público pode conferir a Mesa “A Educação Antirracista no Brasil” com Edilson Dias de Moura, autor do livro Graciliano: romancista, homem público, antirracista, e de José Vicente, reitor da Zumbi dos Palmares. A mediação foi de Edson Cruz.
“Se não temos nem professores negros, como vamos combater o racismo na sala de aula? Precisamos fazer mais. Esse também é um pressuposto da Virada da Consciência. A gente sabe muito, mas como podemos avançar? Como podemos construir um movimento de luta antirracista? Se a gente não conseguir fazer isso em ação, como vamos mudar nosso país? Atividades como essas tem essa missão”, afirma José Vicente, trazendo provocações para abrir o debate.
De acordo com o autor Edilson Dias de Moura, autor do livro Graciliano – romancista, homem público, antirracista (Edições Sesc), uma educação antirracista precisa considerar que uma criança é capaz de entender e interpretar. “Foi nisso que Graciliano Ramos acreditou. É através do letramento que se pode fazer uma verdadeira revolução, e foi nisso que Graciliano sempre acreditou. Ele também defendeu os direitos das mulheres, como no livro Madalena. Precisamos de uma escola sem correntes, sem polícia e sem arame farpado. Precisamos de uma escola com melhores condições. Essa divisão já demonstra que existe uma intencionalidade por trás disso”, complemento Moura.
Neste domingo, dia 17/11, a programação continua com as mesas:
1-Racismo Algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas redes digitais com Tarcízio Silva e Douglas Calixto (mediação de Jefferson Alves de Lima).
2-Literatura Negra e Literatura Periférica no Brasil com Cidinha da Silva, Paulo Lins e Oswaldo de Camargo (mediação de André Augusto Dias).
3-Memória, Identidade e Resistência na Literatura com Elisa Lucinda, Eliana Alvez Cruz e Teresa Cárdenas (mediação de Estevão Ribeiro). Com direito à sarau no final!
Serviço:
FLINKSAMPA – Festa Internacional do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra
Datas e horários: dias 16 e 17 de novembro/2024 – das 14h às 18h30
Locais: Sesc Pompeia (R. Clélia, 93 – Água Branca – SP – Tel.: 11 3871-7700 / A unidade não tem estacionamento / sescsp.org.br/pompeia / instagram.com/sescpompeia / facebook.com/sescpompeia