Painel mediado pela jornalista Adriana Ferreira reuniu a atriz, cantora e apresentadora Maria Ceiça e a professora, doutora e diretora do Ipeafro Elisa Larkin Nascimento
Nas palavras da jornalista Adriana Ferreira, o livro Teatro Experimental do Negro: Testemunhos e Ressonâncias é um tesouro relançado em 2025 pela Edições Sesc e Editora Perspectiva. A obra organizada por Abdias Nascimento, Elisa Lark in Nascimento e Jessé Oliveira inspirou o segundo painel deste último dia da 13ª FlinkSampa – Festa do Conhecimento, da Literatura e Cultura Negra realizada no Sesc Pompéia nos dias 15 e 16 de novembro.
Sob a condução de Adriana, a conversa reuniu a atriz, cantora e apresentadora Maria Ceiça e a professora, doutora e diretora do Ipeafro Elisa Larkin Nascimento. Maria, força que conecta o moderno e contemporâneo, contou que não tinha ouvido falar do Teatro Experimental do Negro (TEN) durante a sua formação na década de 1990. O TEN foi fundado em 1944 no Rio de Janeiro pelo multiartista Abdias do Nascimento mirando a valorização social do negro e da cultura afro-brasileira por meio da educação e arte.
“No começo da minha carreira eu me senti muito solitária como uma atriz negra recém-formada. Pensava: o que farei da minha vida? Ruth de Souza e Zezé Motta me receberam e me acolheram. A partir daí comecei a desenvolver vários trabalho e passei a conhecer que existia uma CIA chamada Teatro Experimental do Negro”.
Elisa observou que o Teatro Experimental do Negro era moderno e já apontava para o contemporâneo. “O próprio Abdias tinha muita consciência do apagamento como resultado do racismo no Brasil. Ele sabia que o TEN seria apagado e fez questão de registrar a história em crônicas, testemunhos, ensaios, depoimentos”.
“No TEN é onde nasce o psicodrama no Brasil. Ele tinha uma presença muito importante. Ele nasceu como parte daquilo que se chama teatro moderno no Brasil, na mesma época, com os mesmos coletivos, companhias, mas não aparece nessa história do teatro brasileiro. Isso é um bom exemplo de apagamento”, apontou a diretora do Ipeafro.
Maria Ceiça revelou que a política sempre foi muito importante para ela. “A Ruth de Souza tinha uma consciência muito grande em função da formação, da alfabetização dos operários. O Abdias era visionário quanto à educação dos trabalhadores, a organização das domésticas”.
Maria apontou que as novas gerações de negros pararam de esperar serem chamados para fazer. “Começaram a criar, produzir e atuar em seus próprios meios. “Quando comecei, a gente não tinha essa consciência racial. A nova geração não vai deixar isso regredir. O público quer se ver. Tem formação de ampla plateia pela internet, e uma plateia negra. O fazer e políticas afirmativas estão entre os grandes avanços, mas a estrutura resiste às mudanças que a comunidade negra está impondo em todas as áreas. A rede social está ajudando”.
Para Elisa, a preservação e apresentação do legado do Teatro Experimental do Negro em seu conjunto e em suas ressonâncias fortalece as novas gerações. “Essas ressonâncias são as pessoas vivas que estão fazendo o teatro negro, sobre o que representou o TEN, a documentação desse fato para não deixar ir para o apagamento. Como resultado do TEN, tenhamos chegado a uma situação em que corremos menos perigo de apagamento. O TEN começa com alfabetização e cultura geral. O aspecto político da luta contra o racismo é fundamentalmente educacional”.