Especialistas destacaram que as mudanças acontecem muito lenta diante da urgência da sociedade
12º Congresso Internacional de Educação, realizado pela Universidade Zumbi dos Palmares dentro da ampla programação da 6ª Virada da Consciência, iluminou os grandes temas que mobilizam a sociedade, sobretudo pela perspectiva das pessoas negras. Nesta sexta-feira (17), segundo e último dia do evento, foi a vez de esmiuçar os desafios e as oportunidades diante do avanço da pauta ESG (Ambiental, Social e Governamental).
O debate mediado pela jornalista e âncora do Jornal da Cultura (TV Cultura), Joyce Ribeiro, compartilhou as perspectivas de Viviane Mansi, diretora de ESG e Comunicação da Toyota e presidente da Fundação Toyota; Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado e consultor da Pinheiro Pedro Advogados; Acácio Jacinto, gerente adjunto do Canal Futura; Letícia Vidica, apresentadora, palestrante e escritora, integrante do coletivo Herdeiras de Glória Maria; e Carol Jango, Diretora Geral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).
A conversa destacou o ESG como ferramenta de oposição as formas de opressão e a promoção do social por meio da inclusão e o protagonismo de pessoas negras na agenda de sustentabilidade. Viviane Mansi, primeiro executiva mulher da Toyota, disse observar o tema muito presente na pauta dos conselhos do mundo corporativo, algo que não acontecia há alguns anos. “As mudanças agora estão sendo pressionadas também por cima. Não podemos normalizar que só uma parte da população pode prosperar e nem achar normal que só um tipo seja representado nas organizações”.
Viviane disse que as mudanças precisam ser agora e que as empresas ou aprendem pelo amor ou pelo constrangimento. “Não podemos no calar. Temo ter e ampliar as vozes. Em qualquer lugar, não tenho notícias de grupos diversos que não sejam muito melhores do que um grupo padronizado. A gente precisa olhar para as pessoas dentro das empresas e ver, por exemplo, se a lista de promovidos tem diversidade, se a minha área tem diversidade”.
Leticia Vidica frisou que a comunicação é um poder de criar e construir estereótipos e opiniões. “Por muito tempo as nossas pautas não estavam no jornalismo. A responsabilidade que nós, jornalistas, temos de falar sobre isso e envolver as altas lideranças na conversa para o tema avançar. O ESG é uma pauta para os jornalistas levar para dentro das empresas. É preciso ter diversidade e inclusão. Falar de diversidade e inclusão é uma pauta que não tem volta. É preciso falar. A gente tinha poucas pessoas pretas na televisão. Hoje a gente vê muitas pessoas pretas nos bastidores e na frente da tela. E preciso incluir a pauta racial na discussão sobre ESG”.
Carol Jango observou que o processo de mudança está muto lento perto da urgência estabelecida. “A perspectiva salarial é desigual. Precisamos cobrar e lutar por uma política de acesso e permanência de pessoas negras em posições de liderança. A gente tem as políticas e leias estabelecidas, mas a execução não tem a radicalidade necessária para o que a gente enfrenta em termos de desigualdades”. Carol enfatizou que é preciso reconstruir as bases do nosso conhecimento para que seja igual para todos”.
O caminho passa pelas políticas afirmativas e pelo conhecimento para romper as estruturas de privilégios, apontou Acácio Jacinto. “As empresas perceberam que o negro é um modelo de negócio. Não tem para aonde correr. Somos maioria, somos o futuro. Precisamos de políticas públicas para chegar nas lideranças. E quando uma pessoa preta vence, muda toda uma comunidade, vira uma referência. Temos que pensar o ESG mirando as comunidades, o saneamento básico…”, orientou Acácio, que aponta as cotas, a educação e a capacitação como único caminho para furar a bolha.
Viviane também destacou o poder da educação para romper as estruturas. “Não tem outro acesso para o que chamamos de elite a não ser pela educação. A gente precisa ocupar os espaços de comunicação para contar a nossa história e outros desejos, pois quando você precisa parecer alguém que não é você, está tudo errado. A gente precisa ocupar os espaços”.
Para Antonio, o posicionamento e a resistência são essenciais para mudar a dinâmica de uma sociedade em que poucas famílias detém a maior parte dos recursos. “A educação e a formação devem ser contínuas. Temos que estudar a vida toda. E não se preocupe com as críticas dos outros. Quando a Universidade Zumbo dos Palmares foi fundada, houve muitas críticas ao José Vicente. Hoje é uma referência”. Acácio, por sua vez, compartilhou dicas que considera essencial nessa jornada – valorize a sua identidade, direcione os seus objetivos, se comunique, faça network e converse, e seja humilde”.